Entrevista com o ex-MIBR eduzin

quarta-feira, agosto 18, 2010
Entrevista com o ex-MIBR eduzin

O Made in Brazil só é o Made in Brazil que você conhece hoje devido a Eduardo “eduzin” Chagas (foto) e outros quatro jogadores, que eram do time quando nasceu esta organização, a mais importante da história do país e reconhecida internacionalmente. O MIBR.com.br teve a oportunidade de entrevistá-lo, abordando assuntos como o início da sua carreira, os campeonatos disputados e até o motivo que o fez se aposentar. O que faria com que ele voltasse a jogar?


Na entrevista, eduzin ainda fez diversas comparações entre o cenário de anos atrás com o de hoje e afirmou: “o cogu foi o maior nome do CS sul americano e ainda será por muitos anos”.


Clique aqui para ver a entrevista


Se apresente aos usuários de MIBR.com.br.
Fala nova geração do CS! Meu nome é Eduardo Chagas, tenho 28 anos, moro no Rio de Janeiro, sou economista, trabalho com meu pai e hoje em dia eu gosto de ocupar meu tempo fazendo coisas produtivas e também gosto de tomar um goró com a galera.


Quando e como você começou a jogar Counter-Strike?
Acho que foi no início de 2000. Eu jogava Quakeworld e gostava muito de jogos FPS (1ª pessoa). Um amigo meu de infância me falou desse mod chamado Counter-Strike e me emprestou um CD do Half Life com CD-Key original. Instalei o CS e já me viciei de imediato. Passava noites em claro jogando CS na Unigames/hardmob e nos outros servidores da época (eram poucos).


O que mudou no time, no fim de 2002, quando deixou de ser Arena.DBA para se tornar o MIBR?
Mudou a seriedade, mudou o patrocínio, mudou de um simples hobby para uma profissão. Largamos o patrocínio da ARENA Jogos e assinamos um patrocínio sério com o Paulo (DBA). Após uma reunião, decidimos criar o nome MIBR (Made in Brazil).


O que te levou a parar de jogar profissionalmente?
Chega uma hora que nós temos que tomar essa decisão. Eu sempre fui o mais velho do mibr e reparei que não estava com tanto ânimo e dedicação para continuar jogando. Joguei enquanto achava que valia a pena jogar. Para se manter em um nível alto é preciso dedicar muitas horas do seu tempo e mais importante ainda é não perder o tesão pelo jogo. Eu já não estava com toda aquela garra e disposição que tinha no começo.


O que te faria voltar a jogar?

Um contrato de 50 anos ou mais e um salário de 10mil reais no mínimo mais benefícios hehe. Eu estou muito velho para jogar CS, estou com outras prioridades na vida.


Se você fosse convidado por uma grande empresa para montar uma equipe formada apenas por jogadores brasileiros e em atividade para participar de competições internacionais, que jogadores você escolheria?
Difícil responder porque não acompanho de tão perto o cenário atual. Sei que tem muitos novos talentos como prd, spacca, FalleN, entre outros, mas a galera que eu sei que é fera mesmo a maioria está aposentada. Mas provavelmente do pessoal de hoje em dia eu pegaria o FG inteiro e colocava o BTT também para garantir. A dupla do sX nak e el sempre jogou muito, rs.


Você foi destaque com a AWP, arma que mais tarde seria usada pelo cogu, que também se destacou no MIBR. O que você tem a dizer sobre o cogu?
O cogu sem dúvidas foi o maior nome do CS sul-americano e ainda será por muitos anos. A dedicação dele era surreal. Nunca vi alguém tão dedicado na minha vida. Eu sempre chegava atrasado nos treinos e ele sempre chegava cedo para treinar a mira. Ele tem a fama de ser meio chatinho dentro do jogo (e eu confirmo, haha), mas fora do jogo sempre foi um cara super legal e divertido. Ele merece uma estátua! Abraço coguzinho!


Você foi lembrado pelo portal HLTV.org em um post sobre os melhores AWPs da década. Qual o segredo para saber usar tão bem esta arma? Quem é o melhor AWP brasileiro da atualidade?
Fui? Opa, bacana. Eu acho que o segredo está na movimentação do AWPer, no reflexo e também nas malandragens todas. É claro que a prática leva à perfeição. O melhor AWPer da atualidade deve ser o FalleN mesmo. Eu vi alguns demos do FG e em todos ele jogou muito bem.


Qual foi a partida que mais lhe marcou no tempo em que você jogava profissionalmente? E o campeonato?
Po, foram tantas. Eu acho que os jogos mais antigos foram os mais legais, pois era tudo novidade e a vontade de ganhar era muito maior. Acho que o campeonato que mais me marcou foi o qualify da primeira ESWC que o mibr jogou, em 2003. A Grande Final foi mibr vs g3x (abraço g3x!) para variar, o mapa era nuke (pronuncia-se “nook” não “nuck”, aprende moçada! hehe), estava na terceira ou quarta prorrogação já e o g3x precisava de apenas um round para carimbar as passagens para a França. Nós de TR fizemos um rush split na B1, com três fora rushando e dois dentro flashando. Eu me lembro que o time inteiro morreu rapidinho e eu matando o crashola na entrada da B1 (eu estava na garagem). Troquei para eagle para matar o cogu (g3x) no cat (não é gat, é cat, de catwalk) e o jimmy.g3x (aka dA_killer) largou o dedo em mim de colt, gritando “França! França! França”. Troquei de volta para a AK, graças a Deus tinham três balinhas ainda e matei o jimmy. Sobrou eu com vida no vermelho e o gau inteiro. Dei a volta toda, entrei B1 pela casinha no walk e dei uma bala nele que estava no cat. Levamos para outra prorrogação, acabamos vencendo e indo para a França pela primeira vez.


Qual foi a melhor line-up que você já jogou?
Eu tive a felicidade de só jogar em timasso, mas a line que mais me marcou foi eu, Corassa, pava, pred e KIKOOOO, talvez por ser o time ao qual dediquei a maior parte do meu tempo e também por ter sido o mibr carioca original.


Que título faltou na sua carreira?
Para ser bem sincero, eu nunca me preocupei com títulos internacionais. Na época, o CS nacional era tão inferior ao CS gringo que só de ter igualado e representado decentemente o Brasil no exterior já valeu para mim.


Há uma discussão muito grande em quem foi o melhor jogador de CS de todos os tempos. Na sua opinião, quem foi?
Eu falaria Heaton e pronto, mas sei lá… elemeNt, Potti e SpawN também são lendas vivas.


Você fez parte de uma época em que o CS ainda começava a caminhar. Porém, muitos dizem que antigamente era melhor que hoje em dia. Você engrossa este discurso?
Engrosso sim! Cara, era tudo novidade, o jogo era mais rápido, podia pular atirando, AWP sem recoil e sem delay. Era outro jogo… Não tinha nem HLTV no começo, era uma correria para aprender e evoluir, pois não dava para baixar demo e copiar táticas. O CS no Brasil era bem mais igualado e tinha muuuuuuuuuito mais times competindo nos qualifies e tal, várias lan houses, a comunidade online era super unida e que eu me lembre não tinham tantos cheaters jogando.


Quais as principais mudanças que você nota na jogabilidade de hoje e de antigamente? Se um time top de 8 anos atrás enfrentasse um time top de hoje, quem você acha que levaria a melhor?
Os times evoluem… as táticas, as malandragens, a noção em geral evolui. Na verdade não tem como comparar. Como eu falei, o jogo era mais estilo Quake eu diria, menos tática e mais tiro na cara, mais rush. De 2005 para cá, tudo mudou muito.


Você tem acompanhado os torneios de CS? Você ainda acredita que o Counter-Strike brasileiro pode voltar a vencer internacionalmente?
Eu tento acompanhar sim, mas não consigo assistir a maioria dos jogos por falta de tempo. Sempre dou uma lida do site do mibr e jogo de time brazuca contra top team gringo eu sempre, sempre assisto o demo. Eu acho que o Brasil pode voltar a vencer sim, mas não é fácil. Os times gringos estão melhores do que nunca, os brazucas vão ter que se dedicar muito e não basta dedicação se não tiver um bom patrocínio ou pelo menos dinheiro para pagar as viagens, equipamentos, etc.


Você fez parte da line-up do mibr na época em que o norueguês bsl jogava por ela. Depois disso, veio o elemeNt e o Vesslan (como manager). Como foi, para você, a experiência de ter estrangeiros como companheiros de equipe? A tentativa é válida? Isso daria certo hoje?
Claro que foi válida. O bsl passou uma experiência boa para nós, ele era super inteligente. Qualquer ajuda é sempre bem vinda, mas hoje em dia eu sou contra, pois o CS nacional já tem um nível bem alto e tem muitos players cheio de experiência aposentados. Em São Paulo então nem se fala, não precisa chamar gringos.


Você por várias vezes foi com o MIBR treinar na Inferno Online, em Estocolmo, na Suécia. Como era treinar lá? Era realmente preciso ou dava para se preparar aqui no Brasil e disputar competições internacionais?
Na Suécia você joga o dia inteiro contra times de alto nível pela internet e parece que você está jogando na lan, realmente não tem comparação. Porém, não é garantido que um time vá para lá e volte jogando muito. Eu acho que se um time treinar em lan no Brasil contra times decentes todos os dias, se dedicando para valer, tem condições sim de ganhar lá fora. Mas se der para dar uma passadinha na Inferno Online para fazer aquele último bootcamp, dá um grau a mais hehe.


Você e Corassa formaram por bastante tempo uma ótima dupla in-game. Como era a convivência com ele fora do jogo? A relação de amizade dura até hoje?
Invictos em 2×2 no Rio de Janeiro há 10 anos! Hahahaha! Eu gosto muito do Corassa, nós não nos vemos com tanta frequência, até porque moramos longe um do outro e estudamos/trabalhamos, mas a gente se fala ainda e com certeza continuamos amigos. Outro dia rolou um encontrou num barzinho com a galera do challenger: corassa, pred, banz, deadfox, alderham, logansan, entre outros.


A maioria conhece o Paulo Velloso (dono do MIBR) apenas de ouvir falar. Você conviveu com ele por bastante tempo enquanto jogava pelo MIBR. Qual era a importância dele no time? Como era a relação dele com os jogadores na época que o time era no Rio de Janeiro?
Eu só tenho coisas boas para falar do Paulo, nos apoiou em todos os momentos, criou gosto pelo CS e investiu na gente. Ele realizou um sonho nosso na época. Parceiro de chopp, o Paulão é 10! Piada interna: VAMOS TERMINAR LOGO ESSE JOGO QUE O PAULÃO TÁ COM SEDE.


Você jogou em uma época que a internet no Brasil não era tão rápida quanto é hoje. Naquela época, dava para levar a sério os treinos on-line? Você acha que atualmente é mais fácil para os times treinarem sem sair de casa?
É… só os macacos velhos lembram dos HPB (High Ping Bastards), gíria para quem tinha ping acima de 150, que era todo mundo que tinha internet 28k ou 56k, ainda discada na época (quem tinha banda larga eram só as faculdades e algumas poucas empresas, que eu me lembre). Dava para jogar sim, os treinos eram chamados de clanfrontos (CFs). Era mais um mata-mata do que um treino, mas a diversão era grande! Na minha opinião, hoje a coisa está mais séria e não fica legal treinar pela internet, tem que ser na lan mesmo!


O que foi mais difícil na época em que você jogava profissionalmente: passar muito tempo longe do Brasil, se cobrar por resultados ou ter que conviver com outras quatro pessoas das quais você precisa manter uma boa relação?
Sem dúvida era ficar fora de casa, ficar sem falar com a família e com os amigos (fora do CS). Teve uma época que nós não parávamos no Rio, era campeonato o ano todo e treinamentos em São Paulo, Curitiba, etc.


O que o Counter-Strike representou na sua vida?
Representou uma época super legal na minha vida, cresci como pessoa e também fiz vários amigos. Viajei para vários lugares que nunca teria ido se não fosse o CS.


Normalmente se pede aos entrevistados que deem conselhos aos jogadores que estão começando, mas com você, o pedido será um pouco diferente: que conselho você daria para os jogadores que hoje são considerados profissionais e representam o país lá fora?
Dedicação, humildade e aproveitem essa época de suas vidas. Saibam que nada é para sempre, valorizem esse momento e estejam preparados para a correria da vida real quando se aposentarem.


Muito obrigado pela entrevista eduzin. Agora você tem o espaço livre para falar o que quiser.
Vou mandar um abraço fortíssimo para toda a galera que conheci nesses anos de CS, pois, no final de tudo, as únicas coisas que ficam são as amizades! Um abraço pra toda galera do Brasil e também um bem forte para o adr e para a galera do mibr. Eu desejo toda a sorte do mundo para eles. Abraços a todos! Valeu pela entrevista. Foi uma honra ser lembrado.



Gênero(s):