MIBR Entrevista com Gaules
O site do Made in Brazil continua entrevistando personalidades do Counter-Strike brasileiro e hoje temos o orgulho de publicar uma entrevista com Alexandre “Gaules” Borba, dono do inativo g3nerationX. Ele foi jogador de sua equipe e também trabalhou como coach e manager no mibr.
Hoje, Gaules trabalha na Samsung e é um dos responsáveis pela realização da World Cyber Games no Brasil.
Na entrevista dada a MIBR.com.br, o paulista fala sobre todas as polêmicas envolvendo a WCG Brasil, as expectativas para a Final Mundial, que acontecerá nos Estados Unidos, e muitos outros assuntos que envolvem a sua carreira nos esportes eletrônicos.
Tivemos a curiosidade de saber também se há a possibilidade do g3x voltar um dia. Ele respondeu. Para saber a resposta, clique em Mais Informações para ver a entrevista!
Se apresente aos usuários de MIBR por favor.
Olá! Meu nome é Alexandre Borba, mais conhecido como Gaulês. Estou com 26 anos e joguei profissionalmente Counter-Strike no período de 1999 até 2008 atuando como player, coach e manager. Passei pelos times Monkey Tatuapé, g3nerationX e mibr. Atualmente trabalho na área de Produtos de IT da Samsung Brasil.
Para qual time você torce atualmente: mibr, CNB ou compLexity?
Atualmente posso dizer que torço por todos os meus amigos que fiz durante esses anos jogando. Tenho um carinho especial por cada um deles e sei que quase sempre um time possui a hegemonia. Hoje torço para que cada um desses amigos que tenho nos três times que você citou e em vários outros consigam seu espaço e realizem seus objetivos. Mas aproveitando a WCG 2010, que está bem próxima, é claro que vou ajudar e torcer para o coL.br fazer bonito lá e trazer a medalha inédita.
Qual foi o momento mais marcante na sua carreira como jogador e coach?
Como jogador creio que o momento mais legal que tive, apesar de não ter sido em nenhum campeonato de grande expressão, foi durante a final da primeira Liga Monkey, que na época era um campeonato grande e que tinha todos os melhores times do Brasil. Jogávamos a Grande Final contra o RED STAR e eu vivia um momento de muita dedicação ao jogo. Lembro-me que acordava 6h30 da manhã para ir até a PlayNET Tatuapé, treinava nos servers abertos até a hora do almoço, depois treinava até às 17h, que era o horário que começava o treino do g3x e finalizava o dia treinando com o time até às 22h. Eu tinha essa rotina pois queria muito ajudar o meu time a ser o melhor do campeonato. Durante o último round, que precisávamos ganhar para levar a partida para a prorrogação, acabei sozinho contra os cinco do RED STAR. Todo mundo do time ficou bastante apreensivo e vieram ver eu terminar o round. Foi aí que tirei a mão do mouse e do teclado e falei: “Calma galera… vou ganhar esse round e vamos ganhar o campeonato na prorrogação. Hoje é o nosso dia!”. Um a um consegui matar os cinco jogadores adversários e vencemos o campeonato. Creio que ali eu vi que tudo que se faz com vontade e 200% de doação gera frutos e a sensação que senti foi inesquecível.
Já como coach, com certeza, foi a DreamHack com o mibr, que conseguimos vencer todos os principais times do mundo logo após a WCG. Creio que fomos um dos únicos a realizar o feito de ganhar das melhores equipes da Suécia dentro da casa delas. Era um ambiente muito hostil e conseguimos estudar muito bem todos os adversários, além de que todos os jogadores se entregaram ao objetivo comum de ser campeão. Foi uma viagem muito divertida, que nunca vou esquecer. Mais uma vez, sei que não foi um campeonato de nome como uma CPL, WCG ou ESWC, mas pelos times que estavam lá, creio que podemos dizer sim que ali fomos campeões do MUNDO.
Você foi jogador e hoje é um dos responsáveis pela WCG no Brasil. O que te faz gostar tanto dos esportes eletrônicos?
Na verdade, creio que eu amo mesmo a competição. Sempre me atraiu o ambiente que existe dentro dela e gosto de fazer algo para tentar sempre ser melhor e melhor. Creio que isso, ligado ao fato do Counter-Strike ser um jogo de equipe, foi a combinação perfeita. Fiz muitos amigos e irmãos dentro do jogo e você poder competir, viajar e se divertir com eles não tem preço. Hoje estou do outro lado, tentando melhorar o ambiente e dar uma melhor condição para aqueles que continuam jogando. Sempre que posso, tento ajudar amigos e pessoas que conheci durante esses anos e creio que serei assim para sempre, até porque tenho certeza que um dia o e-sport vai ser visto com a devida atenção de todos.
Qual sua avaliação sobre a WCG Brasil 2010? Você tem uma estimativa do público presente nos três dias do evento?
Não tenho esses números oficiais, mas creio que esta WCG foi um evento fantástico, pois aproximou do grande público, que são “casual gamers”, o ambiente de uma Final Nacional de campeonato. O fato do torneio ter sido realizado dentro de um grande shopping de São Paulo e da maneira que a estrutura foi montada, gerou um interesse muito grande das pessoas que passavam pelo local. Com certeza ficou muito claro que o nosso país pode comportar uma Final Mundial da WCG. Não custa sonhar, né.
É possível trazer uma Final Mundial da WCG para o Brasil?
Depois da realização da WCG Panamericana, o Brasil com certeza será visto com outros olhos pelos organizadores. É claro que não custa sonhar. Já teremos as Olimpíadas e a Copa do Mundo aqui no país, então por que não uma Final Mundial da WCG?
O Brasil recebeu, pela primeira vez, a WCG Pan American. Como foi a negociação para trazer o evento para o país?
A pessoa que é responsável pela WCG no Brasil e realizou todas negociações é o Gerente de Marketing Rodrigo Moretz, que já é um grande conhecido de toda a comunidade. Ele seria a pessoa mais indicada para explicar e falar melhor sobre este assunto.
O que os times estrangeiros acharam do país e como eles avaliaram a WCG Pan?
Tive a oportunidade de conversar com os amigos do EG, o Punto cL e o time do Canadá. Todos eles acharam muito bom o local do evento, a estrutura e a organização. Creio que é normal a parte de que tiveram que enfrentar longos voos para chegar até o Brasil, pois já estão acostumados com isso. A resposta que tive de todos foi a mesma: “foi um evento de nível igual a todos os grandes eventos mundiais”.
Sendo chefe da delegação brasileira na WCG 2010, qual será a sua função?
Creio que o principal objetivo lá vai ser ajudar todos os jogadores em tudo que for preciso, passar um pouco da experiência que adquiri durante os anos que competi e além disso tentar manter a galera o mais unida possível, com foco no objetivo de colocar o Brasil no 1º lugar no quadro geral de medalhas. É claro que como tenho muito contato com os meninos do Counter-Strike, irei tentar ajudá-los com tudo que for preciso e, se for permitido, irei ajudar durante as partidas também, não só eles como todos os outros que precisarem.
Pelo MIBR, você criou o diário do Gaulês, que fez um enorme sucesso. Agora como chefe da delegação brasileira na WCG, teremos o diário novamente?
Claro, essa é uma das ideias! Irei fazer não só o diário, como irei postar uma série de entrevistas, fotos, reviews, críticas e comentários em tempo real pelos canais das redes sociais da Samsung e também pelo meu Twitter (twitter.com/g3xgau). A ideia é aproximar ainda mais a delegação brasileira do público que vai torcer e acompanhar o Brasil na WCG. Não deixem de acompanhar!!
Você acredita que o compLexity (ex-Firegamers), no CS, tenha chances de chegar entre os primeiros ou até mesmo ser campeão?
Claro. Há alguns dias, o Evil Geniuses, que perdeu para eles, foi campeão de um grande campeonato e isso mostra que o nível atual do CS brasileiro voltou a ser alto. Se tiverem a calma necessária e se esforçarem bastante nessas últimas semanas que faltam, treinando e se dedicando, além de estudar os adversários, eles podem ganhar de qualquer time do mundo. Estou com uma forte sensação de que, neste ano, o Counter-Strike vai conseguir a tão sonhada medalha.
Você ainda acompanha os campeonatos nacionais e a movimentação do cenário brasileiro? O que tem achado?
Acompanho todos que posso. Acredito que o cenário passa por um momento muito especial, principalmente nesses últimos campeonatos, nos quais tivemos disputas equilibradíssimas e todos os times ganharam e perderam partidas. Apesar do coL.br ter conseguido a vitória na WCG Brasil, eles perderam um grande campeonato logo depois e isso mostra que a galera vem evoluindo e se dedicando. Isso só traz melhoras para todos. Com a disputa, vem o crescimento.
Em que modalidades você espera que os representantes brasileiros tragam medalhas na WCG?
Com toda certeza somos favoritos a medalhas no Guitar Hero, no Carom 3D e no Counter-Strike. No restante acho que vai depender muito do momento de cada um dos atletas e, se for o dia deles, podemos beliscar mais algumas.
Muito se fala que o grande número de vagas para times de São Paulo na WCG Brasil é para reduzir custos. Isso é verdade? A Samsung ainda passa por dificuldades econômicas ou não deseja investir mais tão fortemente no e-sport?
Todos sabem que isso não é verdade. A questão é que a grande maioria da comunidade está em São Paulo, temos muitos bons jogadores e times por aqui e é obvio que o fato deles já estarem próximo do evento ajuda muito. Porém, para quem teve a oportunidade de ver e participar da Final Nacional, foi fácil perceber o nível do investimento na estrutura do campeonato e nos jogadores. A WCG vem crescendo a cada ano e a ideia é trazer sempre mais estrutura e conforto a todos que participam do evento.
No ano que vem, mais cidades irão receber qualifies ou a política dos últimos dois anos deve continuar?
Isso é melhor perguntar ao Rodrigo Moretz. Só ele sabe desses detalhes.
Sempre polêmica, a seletiva on-line trouxe, em 2010, novamente, muitas discussões. Há planos de se realizar novamente o qualify on-line em 2011?
Isso também só o Rodrigo Moretz pode responder.
Neste ano, a WCG Brasil classificou dois jogadores no Carom 3D e no Guitar Hero. Você não acha que está na hora do CS também ter esse dirieto? Ou os custos impossibilitam essa ideia?
A ideia de colocar duas vagas para essas modalidades se deve ao fato do Brasil ter grandes talentos e jogadores extremamente vencedores nos dois jogos. Com isso, nossas chances de conseguir uma dobradinha no pódio das duas modalidades é muito grande. Creio que é um investimento e um custo benefício muito grande e que foi extremamente inteligente essa decisão.
Muito se fala em até quando O CS 1.6 vai durar. Dentro da Samsung, já há alguma coversa em retirar este game, o mais popular, da WCG?
Todos os games são escolhidos por votação e, se depender da popularidade do CS 1.6, vai durar por muitos e muitos anos ainda.
Você não acha interessante a ideia da Samsung formar uma seleção nacional para disputar campeonatos entre países como é o caso da ENC?
Acho sim. Tenho certeza que as comunidades precisam de um apoio como este e seria bom demais se não só a Samsung, mas outras empresas tivessem essa sensibilidade de formar um time de jogadores campeões e dedicados e colocá-los no circuito mundial para representar nosso país.
Atualmente os times brasileiros não tem tido o sucesso que tiveram no passado. A que você atribui isso?
Creio que tivemos uma mudança muito grande de geração. Não temos mais grandes jogadores do passado e também com a crise que tivemos há alguns anos, os patrocínios e o apoio aos jogadores caiu muito. Creio que ficou difícil para alguns deles, que estavam acostumados a ganhar bem para jogar e fazer grandes viagens com conforto e estrutura. Hoje eu não vejo mais a mesma estrutura para os jogadores e com isso creio que seja natural uma certa desmotivação. Também acho que alguns deles estão passando por um delicado momento em ter que se decdiria entre ir fundo nos treinamentos com dedicação ao time e ao jogo ou tentar concluir uma faculdade.
Em muitos países europeus, os jogadores vivem de CS e fazem dele a sua profissão. No Brasil, os jogadores trabalham e muitos deles estudam. Você ainda vê a possibilidade do país ter times realmente profissionais ou esta época já passou?
Não vou dizer que a época passou, pois na verdade ela chegou só para alguns poucos sortudos que tiveram o prazer de serem bem remunerados para fazer algo que amamos muito. Acredito sim que a tendência é o e-sport crescer cada vez mais e, com isso, o investimento de grandes empresas e parceiros para jogadores e times, mas acho que a principal mudança que precisa acontecer é a comunidade rever o seu próprio comportamento. Hoje, tenho certeza que se 99% das pessoas da comunidade estivessem do lado dos patrocinadores e olhassem para eles mesmos, vendo a forma com que a maioria se comporta, as atitudes, a falta de organização e a postura de muitos jogadores e times, eles não colocariam o dinheiro neles mesmos. Acho que a mudança deve partir primeiro de cada um dos que fazem parte desta comunidade e aí sim seremos vistos com outros olhos pelo pessoal que pode investir e mudar a vida dos que querem seguir essa carreira.
Certa vez, em uma entrevista, você comentou que, na época, a chance do g3x voltar era zero. E atualmente? Existe essa possibilidade?
Voltar com um time continua a mesma resposta. Talvez mais para a frente ele possa voltar como a marca de algo muito legal para o e-sport, mas isso ainda é segredo, hahaha.
O que o Gaulês ainda sonha em fazer pelo CS nacional?
Poder dar uma estrutura aos jogadores que se dedicam e que sonham em conquistar títulos para o nosso país. Aprendi a amar e respeitar muito esse jogo e sei que ele pode mudar bastante a vida dos jovens e dar um aprendizado que não temos em nenhum outro lugar. Acredito que ainda conseguirei ajudar bastante essa galera.
Muito obrigado pela entrevista, Gaulês! Agora você tem o espaço livre para falar o que quiser.
Obrigado pela oportunidade. Queria apenas agradecer a todos que me acompanham e dizer que a torcida agora pela delegação brasileira vai ser muito importante!! E para todos aqueles que tiverem interesse em saber sempre mais e ficar mais perto do meu dia a dia, pode me seguir no twitter: twitter.com/g3xgau.
Obrigado!!
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